“Os analfabetos do século 21 não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguirão aprender, desaprender e reaprender”. Foi nos anos 1970 que Alvin Toffler, futurista e filósofo norte americano, colocou no papel essa predição. No entanto, em um universo onde a única constante é a mudança, ela não poderia ser mais atual.
Frequentemente ouvimos falar sobre a predominância de métodos ultrapassados em instituições de ensino: enquanto a Educação 1.0 priorizava um modelo tradicional individualizado, a 2.0 trouxe moldes replicáveis em sala de aula e a 3.0 começou a incorporar tecnologia e a ressaltar o protagonismo do aluno.
Transitamos entre os três e os criticamos, mas pouco se fala ainda sobre as alternativas a eles. Para a Educação 4.0, facilitar o aprender, desaprender e reaprender seria uma delas.
Mas como preparar crianças para navegar em ambientes altamente digitalizados, para os quais também não estamos preparados? E qual seria, portanto, o futuro da educação?
Entenda melhor esse movimento e como trazer a Educação 4.0 para sua escola.
Revolução digital
É importante começarmos falando que a Educação 4.0 é um fenômeno que foca não apenas em o que é ensinado, mas na maneira como é ensinado. O modelo é baseado em solucionar problemas, em especial os problemas do futuro.
A Educação 4.0 responde às necessidades da chamada 4ª Revolução Industrial — a Revolução Digital. Por sinal, é da Indústria 4.0 que surge o nome. Fruto dela é o alinhamento entre humano e máquina e novas possibilidades de inovação.
Logo, criatividade, empatia e empreendedorismo são habilidades fundamentais a serem desenvolvidas nessa nova ordem. Além disso, há uma infinidade de conhecimento acessível, dados e recursos digitais — de internet das coisas a inteligência artificial — que devem ser explorados. Por que não introduzir tudo isso desde cedo?
Segundo estudo de docentes da University of Southern California, a meia vida de uma habilidade profissional hoje é de apenas 5 anos. Isso significa que, a cada meia década, ela perde metade de seu valor. Em 10 anos, uma competência já pode ser considerada obsoleta. Cabe aos educadores desenvolver jovens capazes de renová-las ao identificarem oportunidades de aprendizado no dia a dia.
Por isso, um dos principais conceitos da Educação 4.0 é o learning by doing (aprender fazendo), que tem a experimentação como base para a absorção de conhecimento e desenvolvimento de competências.
E como num mundo movido a tecnologia a mudança acontece exponencialmente, “aprender a aprender” é uma aptidão que acompanha a tendência do mercado exigir novas habilidades cada vez mais rapidamente. Ela pode ser adquirida principalmente por meio de projetos e aplicações práticas.
Mão na massa
Para exercitar a Educação 4.0, escolas devem priorizar atividades interdisciplinares, que desenvolvam competências socioemocionais, como colaboração e empatia, além de capacidades técnicas relacionadas a linguagens de programação e uso de novas tecnologias, como impressoras 3D e máquinas de fabricação digital de forma geral.
É imperativo que novos recursos e ferramentas sejam explorados para aumentar a interatividade e fortalecer processos de construção como parte do aprendizado, mas ainda que infraestrutura tecnológica seja relevante, não é o que define a qualidade do ensino. Em vez disso, é possível usar de materiais comuns e de baixo custo, como itens recicláveis e papelão, para mediar a busca por informação e incentivar a inventividade — essa é a proposta dos espaços makers.
Para isso, o professor 4.0 precisa ser flexível e correr atrás de novas formas de propor desafios e estimular experimentos continuamente.
Veja algumas dicas para começar na prática:
1. Fazer perguntas em vez de fornecer respostas
Apresentar questões ajudam a guiar o aprendizado autônomo. Uma vez que o aluno é encorajado a participar ativamente de uma descoberta, ele tem seu interesse despertado e ganha confiança para buscar soluções por meio de um raciocínio próprio ou cooperando com colegas de classe, realizando testes e análises.
2. Compartilhar objetivos e trabalhar em projetos
Ter um projeto mão na massa com início, meio e fim, mensuração de resultados e possibilidade de atividades em grupo são o que resumem o “learning by doing” — uma ótima maneira de permitir que jovens criem vínculos com o que estão desenvolvendo e tenham uma experiência divertida. A conquista de uma meta também oferece sensação de realização e favorece a retenção daquele conhecimento.
3. Inserir a cultura maker na instituição
Por meio da cultura maker, é possível colocar o aluno como agente de seu próprio processo de aprendizagem, estimulando a prototipagem de forma lúdica e investigativa. Seja com robótica, eletrônica, programação, arte, marcenaria, costura ou inúmeros outros recursos, o aluno é encorajado a resolver problemas errando, repensando, inovando e se adaptando.
Confira aqui algumas formas de criar um espaço maker.
Educação do Futuro
Esqueça a figura do professor como detentor do conteúdo e carteiras em ordem cartesiana. A Educação 4.0 pode ter sido criada com base na Indústria 4.0, mas nada nesse modelo remete a fábricas ou linhas de produção.
Pelo contrário: uma escola 4.0 deve estar atenta às oportunidades do aluno participar, inventar, colaborar, aprender, desaprender e reaprender. Assim, eles poderão desenvolver novas habilidades muito depois de formados, talvez em torno de tecnologias que ainda nem podemos imaginar — quem sabe criando-as eles mesmos.