Em uma era em que a tecnologia está revolucionando todas as indústrias, uma habilidade essencial de pessoas e instituições passou a ser o quanto elas são futureproof, ou à prova do futuro: flexíveis para absorver as inevitáveis mudanças que podem transformar, em pouquíssimo tempo, o mundo como o conhecemos.
Estamos formando pessoas que, daqui a 20 anos, terão profissões que ainda nem conhecemos. Enquanto isso, dentro do mundo educacional, o desenvolvimento dessa adaptabilidade ou de competências socioemocionais, como a empatia, a colaboração e a autonomia, ficam em segundo plano — quando ele poderia ser facilitado por uma Cultura de Inovação.
O que é Cultura de Inovação no contexto escolar
Quando falamos de Cultura de Inovação na Educação, precisamos sempre partir de um contexto. Para isso, vamos primeiro dissecar o termo em duas partes.
A primeira é sobre cultura: subentende-se, de pronto, que estamos tratando de relacionamentos entre seres humanos. Ela diz respeito não a um indivíduo, mas a um conjunto de pessoas — seus hábitos, comportamentos, referências, conhecimentos, valores e tradições.
Já a definição de inovação exige entender o que é novidade. “A gente só pensa como tecnologia o que nasceu depois da gente”, diz Bruno. E por mais que dispositivos tecnológicos possam ajudar muito em sala de aula quando bem utilizados, há diversas ferramentas e recursos que podem ser combinados ou ressignificados para auxiliar o cumprimento de um objetivo e, assim, permitir ser inovador.
Em um colégio tradicional, por exemplo, o uso da internet pode ser revolucionário. Para uma escola mais tecnológica, internet já é status quo, e portanto o uso da internet com foco nas necessidades das pessoas é que pode fazer a diferença.
No contexto escolar, uma Cultura de Inovação tem a ver com gerar novas vivências e possibilidades de aprendizado para os seres humanos que fazem parte dessa comunidade, tendo sempre o aluno como ponto focal. Ela trabalha o desenvolvimento de competências ligadas ao letramento tecnológico, à resolução criativa de problemas e à realização de projetos, estimulando o protagonismo e a criação do aluno.
Uma Cultura de Inovação pode envolver os âmbitos organizacional, curricular, metodológico e físico. Para que seja cultura, o ideal é que todos eles sejam impactados e que todos os participantes do ecossistema — diretores, coordenadores, professores, alunos e outros — estejam no mesmo barco.
As características de uma escola inovadora
Abertura para o diálogo
Em ambientes inovadores, é preciso ser colaborativo. Uma pessoa só não tem repertório suficiente para saber o que é melhor para todas as pessoas. Por isso, cabe incluir gente com realidades e backgrounds diferentes e gerar um ambiente que ofereça liberdade e segurança para fazer suas ideias valerem.
Quem tem maior poder para fazer isso possível é o gestor ou mantenedor; alguém que compreenda a necessidade de mudança e de dar voz a todos. É ele que tem as chaves para abrir espaço para que a troca e a evolução aconteçam. Por fim, sua abordagem deve ser de inspiração — dar ordens não tem efeito tão positivo quanto criar um processo participativo.
Empatia
Uma premissa primordial de uma escola inovadora é que ela tenha um olhar empático sobre o contexto de seus alunos e de sua comunidade. Se, dentro dela, cada um não se colocar no lugar do outro, o diálogo é prejudicado. Nesse caso, como consequência, qualquer proposta apontaria para o indivíduo, em vez de para o coletivo.
O primeiro passo para implementar essa cultura é avaliar o que esse conjunto de pessoas precisa para poder ter (ou prover) uma melhor experiência de aprendizado, determinando suas necessidades e como elas se refletem em pontos de melhoria para a instituição. A partir deles, é necessário olhar para frente e para os lados: aprofundar-se em outras realidades, outras comunidades, e até em referências científicas para entender que soluções podem suprir esses gargalos.
Proatividade
Não se pode esperar as coisas chegarem prontas, até porque muitos dos problemas que enfrentamos nas escolas ainda não têm soluções. Elas precisam ser inventadas do zero.
Há muitos princípios e experiências externas que podem indicar caminhos para a inovação, mas se a escola não está acostumada a tomar iniciativa por conta própria, essa inovação pode demorar muito para tomar forma — se tomar. Fazer acontecer passa pelo papel da gestão em propor, planejar e de fato colocar a mão na massa, integrando coordenação e professores, até chegar ao aluno.
Mas não pense que esse é um processo fácil — ele exige muita dedicação.
Como começar
Em qualquer condução de transformação, haverá os empolgados e os resistentes. A melhor forma de driblar esses e os demais obstáculos é:
Mirar na visão de longo prazo;
Definir metas, prazos e planos de ação claros;
Dar um passo de cada vez; e
Contar com ajuda externa.
“Um produto novo não tenta chegar ao seu maior nível de sofisticação já na primeira versão”, compara Bruno. “Tem que começar pequeno, com um grupo seleto e mais entusiasmado, entender o que funciona e o que não, e ir iterando.”
Muito vai depender dos early adopters, ou “primeiros adotantes” — podem ser professores, coordenadores, ou mesmo os alunos. São eles que vão se engajar desde o início na mudança, desenhando e testando processos inovadores, e convencendo outros participantes a se engajarem também.
“Imagine se a escola tem 1000 pessoas. Começar com todo mundo de uma vez pode não dar certo, e então quem não acreditava na proposta vai dizer ‘viu, não dá certo’”, defende Bruno.
Além disso, quando se está imerso em um processo de inovação, é difícil avaliar se a instituição está no caminho correto. Para não perder a motivação e medir a evolução, é importante não apenas um ritual de reflexão constante, como também um olhar de fora.
Um consultor, coach ou empresa com um olhar mais amplo de inovação pode ajudar a estabelecer onde se quer chegar e como, além de acompanhar os avanços nas experiências dos alunos e na realidade da escola.
Futureproof
Toda mudança deve ocorrer para que o aluno aprenda melhor e esteja mais bem preparado para o futuro. Isso significa colocá-lo no centro do processo de inovação e, possivelmente, deixar alguns velhos dogmas de lado.
“Ainda é um tabu o aluno ditar como quer aprender, mas faz todo o sentido — é uma das melhores formas de engajá-lo”, explica Bruno. “A partir de suas necessidades, a instituição pode se moldar, se adaptar, refletir sobre o que tem feito e olhar para novas possibilidades.”
Uma escola que tem uma Cultura de Inovação se torna à prova do futuro. Não importa o que venha, ela vai conseguir se adaptar, entender a tecnologia dentro de suas necessidades e se contextualizar com o mundo.