Já ouvi falar do pesquisador indiano Sugata Mitra? Segundo ele, o melhor que um adulto faz para ajudar uma criança a aprender é não atrapalhá-la.
Concorda com ele?
Ainda é um tabu motivar os alunos para que eles construam uma relação mais ativa com seu aprendizado, ou que escolham o que querem aprender – um tabu geralmente apegado ao tradicionalismo e à ideia de que o professor deve ser autoridade.
Enquanto isso, centenas de estudos nos mostram as vantagens de escutar o estudante e de criar um processo participativo. Exercitar a empatia e envolvê-los nessa construção é uma das melhores formas de engajá-los.
Ainda nas palavras de Mitra: “Se crianças estão interessadas, a Educação acontece.”
E, diga-se de passagem, interesse também é estimulado quando alunos sentem que suas ideias e formas de expressão são válidas. As escolas mais inovadoras e que melhor preparam alunos para os desafios do século XXI são aquelas que sabem ser empáticas, ao passo que desenvolvem a empatia como competência socioemocional entre os jovens.
Entenda o papel do educador nesse processo:
O exemplo vem de dentro para fora
Para permear a empatia em todo o ambiente escolar, educadores devem ser exemplo. A Cultura de Inovação e a educação socioemocional devem se tornar uma forma de lidar com qualquer circunstância, a todo tempo.
É necessário criar um ambiente colaborativo, com abertura para o diálogo e compartilhamento de ideias. O ideal é realizar exercícios e dedicar momentos ao desenvolvimento da prática junto a professores, gestores, coordenadores e diretores, até que ela esteja integrada naturalmente a todas as situações da rotina da instituição.
Uma vez que os adultos têm treinada a escuta ativa e participativa entre eles, fica mais fácil estimular essas competências entre os jovens.
Leia mais: A empatia como competência socioemocional na educação do século 21

Conduza processos democráticos!
Não confunda democracia com anarquia. Democracia não funciona sem regras. E elas continuam existindo para que todos prezem pela boa convivência e para que se cumpram as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Mas deixar que alunos tenham o poder de escolher o que querem aprender e contribuam para a construção do currículo pedagógico pode ser transformador.
Na Escola da Ponte, em Portugal, por exemplo, estudantes de diferentes idades podem se organizar a partir de interesses comuns para desenvolver projetos de pesquisa. Equipes se formam e se desfazem conforme os assuntos escolhidos e as relações que estabelecem entre si.
Em sala, todos têm voz. Inclusive os mais acanhados podem deixar críticas, sugestões e pedidos de ajuda por escrito, anonimamente, em uma caixa que periodicamente é aberta ao grupo.
Além disso, assembléias contam com a participação de educadores, funcionários, pais e alunos para tomar decisões que vão desde normas coletivas até o tema da festa de Natal.
Projetos fora do ambiente escolar estimulam a empatia nos alunos
Dado que a definição de empatia está em compreender os sentimentos e as necessidades do outro, desenvolvê-la praticamente depende do convívio com pessoas diferentes de você.
Conforme alunos desenvolvem essas habilidades se comunicando com outros alunos, elas devem ser transferidas também para seu entorno.
Aplique desafios e projetos que exijam que os jovens se aprofundem em um problema que diga respeito a um público específico e real, para que desenvolvam uma solução. Você pode aplicar métodos, como Design Thinking ou PBL, entre outros.
O mais importante, no entanto, é que alunos possam expandir seus conhecimentos além das paredes da sala, entender diferentes contextos, culturas e comportamentos, fortalecer laços humanos e o senso de confiança em comunidade.
Empatia na Regra de Platina
Você já deve ter ouvido a Regra de Ouro: trate os outros como gostaria de ser tratado, ou não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você. O que ela ignora, entretanto, é que cada indivíduo é diferente, bem como cada situação. Você não trata uma criança da mesma forma que um adulto te trata, por exemplo.
Em vez disso, siga a Regra de Platina: trate os outros como eles gostariam de ser tratados. Parece óbvio, mas essa abordagem consiste em entender antes o que estudantes precisam de você, em vez de confiar no que você acha que eles precisam.
Para isso, é preciso escutá-los ativamente: atenção dedicada, tanto ao conteúdo quanto ao tom de voz, para então confirmar, com suas próprias palavras, se o que você entendeu é o que ele quis dizer.
“…Foi isso que você me disse?” — essa simples pergunta dá espaço para que o aluno aprove ou corrija sua interpretação, enquanto sente que suas emoções e perspectivas estão sendo respeitadas.
Não resolva todos os problemas!
Quando confrontados com um problema, é uma reação natural da maioria das pessoas, mas em especial de educadores, querer resolvê-lo. Entretanto, às vezes, é mais valioso assumir uma posição de observador, ou quem sabe facilitador, e deixar que alunos partam para a solução.
Para garantir que empatia esteja inserida no processo, tente enxergar a situação pelos olhos do estudante. Reforce que suas reações, sentimentos e escolhas são válidas, mesmo que você não concorde com eles — e que todos têm direito de cometer erros, se esse for o caso.
Busque então chegar à raiz do problema e ajudá-lo a encontrar respostas, oferecendo suporte onde ele precisar. Dependendo da natureza ou circunstância, essa pode ser uma oportunidade importante de aprendizado e engajamento.
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